Brincar
é algo intrínseco do ser humano, está em nossa essência e completamente
relacionado ao nosso desenvolvimento pleno. As atividades lúdicas são tão
importantes que devem estar presentes no cotidiano, tanto infantil como adulto,
momentos como estes estão diretamente relacionados ao bem estar e a saúde.
Segundo
reportagem da revista Mente Célebre, que traz uma pesquisa do psiquiatra Stuart
Brown, o brincar tem tal importância que sua ausência pode estar diretamente
relacionada a transtornos violentos humanos. Ao entrevistar 26 assassinos,
Brown concluiu que suas histórias de infância tinham dois pontos básicos em
comum: famílias violentas e a rara ou inexistente presença do brincar. Isso
aponta para o fato da brincadeira ser fundamental na formação social do
sujeito, é através dela que somos capazes de assumir diferentes papais, lidar
com medos e frustrações, delegar funções e lidar de maneira lúdica com aquilo
que não é possível abstrair de nenhuma outra forma.
Mas,
como nomear algo de tanto valor? Há muitas divergências quanto à nomenclatura.
Para Rosa (1993) o termo mais abrangente é “Luddos” que vem do Latim. Este
termo de modo geral abrange toda a amplitude do brincar sejam jogos,
competições, a faz-de-conta, as recreações... Alguns autores ainda, preferem
imprimir conceitos distintos para o jogo, o brincar, a brincadeira e o momento
lúdico. Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, brincar significa
divertir-se infantilmente, entreter-se, recrear-se, distrair-se... Mas, os
estudos mostram cada vez mais que o brincar vai muito além disso.
Independente
da nomenclatura utilizada para defini-lo, as diferentes áreas que estudam o
desenvolvimento humano convergem ao ressaltar sua fundamental importância.
Segundo a psicanálise a brincadeira é uma das maneiras que o nosso
subconsciente encontra de demonstrar os desejos e frustrações de forma simbólica.
Ou, seja o jogo é fundamental para as elaborações de situações dolorosas,
felizes ou cotidianas. O brincar está relacionado a nossa vida desde a mais
tenra idade, o bebê encontra na mãe seu primeiro objeto, é uma alegria lúdica
que o envolve ao ter suas necessidades sendo supridas. Ao longo de sua
trajetória este objeto assume outras formas e mais trade esta mesma alegria
lúdica é possível através do jogo.
Todas
as facetas que envolvem o jogo contribuem para a construção social do sujeito,
ganhar, perder, trocar de personagens, frustrar-se são peças chave para a
socialização e preparam para a vida adulta. Segundo Piaget “a possibilidade de
desenvolver estruturas para o conhecer e o viver.” A comunicação das crianças
com o meio acontece através da brincadeira, pensando nisso Wallon quebrou
paradigmas ao afirmar que a aprendizagem vai além dos conteúdos progmáticos,
ela está ligada a essência da criança... A afetividade e o movimento. Se a criança
se desenvolve através do movimento, logo, toda sua aprendizagem perpassa a
sensibilidade, a experimentação, o corpo, a exploração, todos estes fatores são
necessários dentro do ambiente escolar despertando as capacidades de
articulação da criança.
Contudo,
o espaço para brincadeira livre vem diminuindo cada vez mais na infância, seja
na escola ou no seio familiar, esta vem sendo substituída por uma série de
atividades extras que “ contribuem por exemplo para entrada em uma boa
universidade”. Pensando nisso, em 1965 foi fundada na Dinamarca a Associação
Internacional da Brincadeira, com a finalidade de promover e preservar os
momentos lúdicos.
No
ambiente escolar, embora os educadores entendam a importância do brincar na
construção social infantil, é comum que espaços para a brincadeira livre não
sejam valorizados criando de certa maneira uma oposição entre o Brincar X
Estudar. A brincadeira não desmerece o trabalho pedagógico do professor como
muitos pensam, mas também não o libera de suas responsabilidades do ensinar. Ou
seja, o brincar livre não é apenas o “deixar brincar” como alguns possam
imaginar, existe todo um envolvimento do professor na escolha de matérias, na
observação e análise deste brincar, nas orientações que são necessárias de
maneira que haja uma intervenção mas, não uma orientação permanente neste espaço.
Parece
difícil compreender o papel do educador neste processo, e em seu texto sobre o
Brincar na Educação Infantil a professora Tânia Fortuna da uma resposta que
entendo como fundamental sobre como deve ser a brincadeira: “Nem tão “largada”
que dispense o educador, nem tão dirigida que deixe de ser brincadeira.” A
disponibilidade de brinquedos não é o suficiente, para realizar uma proposta
pedagógica que se conecte ao lúdico é necessária uma observação do que
acontece, assim é possível compreender o que a criança faz, suas ações de
maneira entender como está elaborando suas hipóteses. O melhor jogo é aquele que
instiga o brincante e lhe proporciona a experiência. Este também é um momento
para através de pequenas intervenções e questionamento o educador estimule a
atividade mental e psicomotora das crianças.
O
jogo é produção de cultura, através do jogo são valorizadas diferentes abordagens
como a cultura popular. Por isso, para falar e pensar o brincar é necessário
mais do que apenas uma olhar para os grandes pensadores e teóricos, é
necessário dar ouvidos ao saber popular, afinal se o brincar está na essência humana
logo todos temos algo a contribuir sobre o brincar. Além disso, para
compreendermos todos os processos envolvidos na brincadeira é necessário
ouvirmos os maiores entendedores deste assunto: As crianças!! Elas próprias
podem nos mostrar caminhos e alternativas para a brincadeira seja através de
suas falas ou ações potentes no jogo. Para isso, é necessário muito mais do que
estudo e leitura, é necessário uma olhar atento e sensível para a prática
infantil. Precisamos, para entender o brincar, assumir uma postura brincante,
reconhecendo nos pequenos detalhes os conceitos tão fundamentais da
brincadeira.
Bibliografia:
Wermer, Melinda. Brincar é coisa séria.
Mente Célebre- São Paulo:Ediouro Dueto Editorial Ltda. Ano XVIII, 216,
jan/2011(Pag: 26-35).
Nova Escola. Edição Especial: Hora do
brincar-Fundação Victor Civita. São Paulo, 2011 ( Pág.11-15).
Carvalho, Alyson [etal].org. Brincar
(es). Belo Horizonte. Editora UFMG: Pró Reitoria de Extenção/ UFMG, 2005.
Sommenhalder, Aline. Jogo e a Educação
da Infância: muito prazer em aprender/ Aline Sommenhalder, Fernando Donizete
Alves-1 Ed.- Curitiba, pág 123.
Fortuna, Tânia Ramos. Sala de aula é
lugar de brincar? In: Xavier, M.L.F. e Dalla Zen, M.I.H. Planejamento: análises
menos convencionais. Porto Alegre: Mediação 2000( Cadernos de Educação Básica,6
).